Portal de Eventos - UEM, V CIPSI - Congresso Internacional de Psicologia

Tamanho da fonte: 
ESTRATEGIAS PSICANALITICAS PARA A INTERVENÇÃO COM CRIANÇAS AUTISMO O BRINCAR COMO ELEMENTO MEDIADOR
Camila rippi moreno, Jorge Ferreira Abrão

Última alteração: 2012-08-22

Resumo


O conceito de autismo começou a ser utilizado e estudado, na década de 1940, enquanto uma psicopatologia infantil por Léo Kanner, psiquiatra americano, que em 1943 escreveu o famoso artigo: “Autistic disturbances of affective contact”, baseado em onze casos de crianças, às quais, pode observar algumas características singulares, tais como: inabilidade no relacionamento interpessoal; ausência da fala ou fala pouco comunicativa, com presença de ecolalia; dificuldades na atividade motora global; inteligência e alta capacidade de memorização; necessidade de imutabilidade, que inclui a manutenção da rotina, e a presença de comportamentos estereotipados e repetitivos, além de brincadeiras estereotipadas e privadas de criatividade e espontaneidade, o que ele nomeou “autismo precoce infantil”.  Sua etiologia ainda não é clara, criando ainda hoje um campo de controvérsias não resolvido, permanecendo a dificuldade em seu diagnóstico, o que leva a muitos enganos, erros de tratamento.

De acordo com DSM-IV, o autismo está classificado como Transtorno Invasivo do Desenvolvimento, ou ainda como Transtorno Global de Desenvolvimento pelo CID-10, sendo suas principais características: dificuldade na interação social e estabelecer vínculos afetivos; prejuízo acentuado na aquisição e no uso da linguagem e presença de comportamento estereotipado e repetitivo, sendo a prevalência em meninos de é de quatro a cinco vezes superiores em relação às meninas. É necessário ainda que os sintomas se manifestem antes dos 36 meses de idade.

De acordo com a teoria psicanalítica o brincar é um elemento de extrema importância para a constituição da subjetividade da criança, uma vez que por intermédio da atividade lúdica a criança pode demonstrar tanto suas experiências de prazer quanto as de desprazer, expressando seus sentimentos e conflitos inconscientes, podendo assim, ressignificá-los e elaborá-los. Em crianças que apresentam graves transtornos de desenvolvimento, como o caso do autismo, por exemplo, evidenciamos um prejuízo na capacidade simbólica e por extensão, uma grande dificuldade no desenvolvimento de atividades lúdicas, de tal forma que, essas crianças, apresentam um brincar estereotipado e pouco imaginativo.

 No município de Assis (SP), o centro de atendimento especializado- Fênix: Educação para Autistas, fundado em 2005, tem por finalidade oferecer atendimento para pessoas com transtornos invasivos do desenvolvimento, realizando atividades acadêmicas, de música, pintura, educação física e pré-oficinas, sendo que seu objetivo é o de amenizar os desvios decorrentes destes transtornos, auxiliar e apoiar suas famílias e difundir o conhecimento sobre o autismo. Posteriormente esta iniciativa de caráter filantrópico foi encampada pela Secretaria Municipal da Educação e formalizada como uma Escola de Educação Especial.

A partir de 2008, alunas do Curso de Psicologia da Unesp de Assis, iniciaram um estágio de observação no referido Projeto, com o objetivo de conhecer a instituição e obter mais informações sobre as crianças atendidas. Durante o estágio, foi planejada a montagem de uma brinquedoteca, com o intuito de atender as principais demandas de cada criança da presente na instituição, o que acabou originando o projeto de extensão universitária intitulado “O Brincar nos Transtornos Invasivos do Desenvolvimento: Criando Estratégias para o Desenvolvimento Cognitivo e Emocional”, patrocinado pela Pró-Reitora de Extensão Universitária (PROEX), ainda hoje desenvolvido na referida escola de educação especial.

Objetivos: A brinquedoteca tem como objetivo principal, favorecer o desenvolvimento da capacidade cognitiva e emocional das crianças atendidas, sob à luz da perspectivas teóricas psicanalíticas de Klein e Bion, por intermédio da realização de atividades lúdicas acompanhadas por estagiários de psicologia. Os estagiários atuam de forma não diretiva, procurando favorecer a expressão de sentimentos e ideias das crianças atendidas por intermédio do brincar, assim, ao acolherem as angustias da criança e ajudarem a encontrar meios simbólicos de expressa-la, os estagiários contribuem para promover a ampliação de sua capacidade simbólica, uma vez que está função é prejudicada nessas crianças, proporcionando desta maneira, uma organização psíquica mais elaborada, resultando em meios para que essas crianças expressem melhor suas emoções e a dispor de recursos mais eficientes para interagir com o mundo.

Métodos: Oito estagiários de psicologia atuam com sete crianças, divididas em quatro grupos de duas crianças, cada qual com dois estagiários, em sessões semanais de 40 minutos. No entanto, os estagiários passam o período da manhã todo no projeto, participando das outras atividades da instituição.

Resultados e Discussão: As questões apontadas por Kanner reverberaram até nossos dias, sendo modificada, em alguns aspectos, ao longo do tempo. A convivência com as crianças portadoras deste transtorno comprovou que, apesar de seus comprometimentos marcados por um forte retraimento da interação social e da comunicação, elas podem se desenvolver e estabelecer contato afetivo e social com as outras pessoas.

O precário desenvolvimento da capacidade simbólica da criança autista é um dos fatores que contribui para o aparecimento de sintomas, desta forma, propor estratégias de intervenção que ofereçam a criança autista possibilidades de uma melhor expressão simbólica tem ampla repercussão, tanto em seu desenvolvimento emocional quanto cognitivo.

Até o momento, dentre os resultados observados, pode-se destacar que as tendências iniciais das crianças se resumiam a aproximar-se dos brinquedos de forma estereotipada e, posteriormente, com o desenrolar das atividades evidencia-se uma ampliação de suas capacidades simbólicas, representadas pelo brincar mais diversificado, coletivo e com maior interação uns com os outros e com os estagiários.

Conclusão: Por meio dos resultados verificados até o momento, podemos concluir que por intermédio das atividades lúdicas realizadas na brinquedoteca, ocorreu uma ampliação da capacidade simbólica das crianças, através da diversificação e ressignificação das brincadeiras. Além disso, evidenciou também um rudimento de interação entre os participantes do grupo, que passaram a considerar a presença do outro e a interagir a partir dela.


Palavras-chave


autismo; psicanalise; brincar.

Texto completo: PDF