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PSICOLOGIA E PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO: outras formas de fazer produzindo outros modos de saber
Márcia Campos Andrade, Maria Aparecida de Moraes Burali, Andreia Sanches Garcia

Última alteração: 2012-07-30

Resumo


A presente sessão coordenada tem como temática a produção de conhecimento em Psicologia a partir de referências paradigmáticas contemporâneas como a Teoria da Complexidade em Edgar Morin, a Transição Paradigmática em Boaventura de Sousa Santos e a Pesquisa Qualitativa em Psicologia em Fernando González-Rey. Nessa direção, propõe a imbricação entre prática e teoria partindo da realidade dos sujeitos em seu campo social, estando o pesquisador inserido nesse como um agente que participa de seus processos e, dessa forma, lhe é possível conhecê-lo, refletir sobre o mesmo a partir de seus referenciais teóricos e contribuir com o seu processo de transformação.  

Tem como objetivo contribuir, a partir da práxis de pesquisa de suas participantes, com a discussão e reflexão sobre a questão da produção de conhecimento em Psicologia na contemporaneidade, assim como sobre a relação do sujeito pesquisador com os sujeitos no campo de pesquisa.

Nos trabalhos intitulados “Loucura e Trabalho na Economia Solidária – o Dispositivo Intercessor como um operador na Atenção Psicossocial” e “A Ética da Estratégia Atenção Psicossocial: Modos de operar do Dispositivo Intercessor na Atenção Primária” a perspectiva de pesquisa adotada é a do Dispositivo Intercessor. Esse é um recurso metodológico em construção pelos participantes do Laboratório Transdisciplinar de Intercessão-Pesquisa em Processos de Subjetivação e Subjetividadessaúde – LATIPPSS, coordenado pelo Professor Livre Docente Abílio da Costa-Rosa da UNESP/Assis. O LATIPPSS se inscreve no Grupo de Pesquisa Saúde Mental e Saúde Coletiva do Programa de Pós-Graduação em Psicologia e Sociedade da Faculdade de Ciências e Letras/ UNESP/ Assis.

No âmbito da linha de pesquisa Atenção Psicossocial e Políticas Públicas são realizados, pelos participantes do LATIPPSS, processos de intercessão-pesquisa a partir de projetos de iniciação científica, de dissertações de mestrado e teses de doutorado em diversos campos como: Educação, Saúde Mental, Saúde Coletiva e intersetorias, como são os casos das intercessões que serão apresentadas nessa sessão coordenada que se dedicam à relação entre loucura e trabalho na articulação Saúde Mental e Economia Solidária; e, aos modos de operar das equipes da Estratégia Saúde da Família. 

No trabalho intitulado “Método da Roda como estratégia de pesquisa participante em Psicologia”, como o próprio título aponta, tem como perspectiva a Pesquisa Participante desenvolvida no projeto intitulado “O trabalho e o trabalhador de Saúde Mental no contexto da Reforma Psiquiátrica”, com a finalidade de introduzir e discutir sobre as várias questões complexas que envolvem a construção do trabalho nesse contexto. Esse projeto está vinculado ao Núcleo de Pesquisa Trabalho e Ação Social (NUTAS), do Programa de Pós-graduação em Psicologia Social-PUC/SP, que pesquisa e elabora conhecimentos sobre o tema trabalho como condição fundante das relações humanas a partir de sua expressão social e histórica de inserção do ser humano no mundo.

Sobre o Dispositivo Intercessor podemos afirmar que este busca integrar a produção de conhecimento em duas dimensões essenciais: como práxis de intercessão (DI) do intercessor encarnado junto aos que estão no campo da intercessão onde ocupa o lugar de “+1”, como o “sujeito suposto saber” em Lacan, para depois desocupá-lo, passando a ser um a mais, atuando como coadjuvante no processo de intercessão; e, como Meio de Produção do Conhecimento (DIMPC) enquanto práxis universitária do intercessor-pesquisador ao produzir conhecimento para além do campo de intercessão, embora também o inclua, como um operador para outros possíveis intercessores. Essas duas formas da práxis do intercessor configuram a intercessão-pesquisa. (Costa-Rosa, 2008).

O Método da Roda aposta na possibilidade de se instituírem sistemas de co-gestão que produzam tanto compromisso e solidariedade com o interesse público, quanto capacidade reflexiva e autonomia dos agentes de produção. Tomando-se “a roda como espaço democrático, um modo para operacionalizar a co-gestão. Mas também a vida girando e se movimentando, sempre: a roda”. (Campos, 2000, p.14). Configura-se como um método de ressonância coletiva que consiste na criação de espaços de diálogo, em que os trabalhadores podem se expressar e, sobretudo, escutar os outros e a si mesmos. O objetivo é estimular a construção da autonomia dos sujeitos por meio da problematização, da troca de informações e da reflexão para a ação.

Os trabalhos apresentados nesta sessão estão em andamento, portanto, a elaboração teórica sobre os saberes a serem produzidos a partir dos fazeres no campo de pesquisa ainda está por vir. Entretanto, pode-se considerar que ambas as metodologias de pesquisa, embora existam diferenças em relação à produção de conhecimento a partir do campo de pesquisa, possuem em comum a primazia do processo de produção de sujeitos. Além disso, existe um foco importante na centralidade do trabalho tanto dos sujeitos da experiência da loucura quanto dos sujeitos trabalhadores da Saúde Mental.

Portanto, existe uma perspectiva fundamentada na escuta das brechas do instituído no discurso dos sujeitos tendo como intenção operar mudanças e transformações no cotidiano de trabalho dos e com os que estão no campo de pesquisa. Nesse sentido, o processo de construção do fazer do pesquisador no campo pode vir a desestabilizar as formas alienadas que constituem a realidade social, o que pode vir a restabelecer a possibilidade de construção de um outro fazer/saber tanto para os trabalhadores que estão no campo de pesquisa quanto para o próprio pesquisador que com eles se relaciona em seu processo de produção de conhecimento.

Referências

Campos, G.V.S. (2000). Um método para análise e co-gestão de coletivos:  a constituição do sujeito, a produção do valor de uso e a democracia em instituições: o método da roda. São Paulo: Hucitec

Costa-Rosa, A. (2008). Intercessões e análises sobre o processo de produção saúde-adoecimento atenção no campo psíquico, num território municipal. Produção de novas tecnologias para o implemento da Atenção Psicossocial no Sistema Único de Saúde. Assis: UNESP. (Mimeo).

 .......................... (2011). Operadores Fundamentais da Atenção Psicossocial: Contribuição a uma Clinica Crítica dos Processos de Subjetivação na Saúde Coletiva. Assis, 2011. Tese (Livre Docência) – UNESP, Assis.

 

 


Palavras-chave


Psicologia; Fazer/Saber; Produção de conhecimento

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