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Violência sexual: Efeito da dominação masculina ou estratégia de controle?
Última alteração: 2019-06-02
Resumo
Existem ao menos dois possíveis entendimentos sobre a alta prevalência de violência sexualcontra meninas e mulheres em diversas sociedades: (i) as agressões sexuais seriam produto deculturas permeadas pela dominação masculina ou (ii) atos sexualmente violentos seriameventos importantes para a própria manutenção da dominação. O objetivo da discussão é,então, examinar essas duas possíveis explicações interpretativas sobre a violência sexualfazendo considerações sobre as implicações para a pesquisa e intervenção na área. A violênciacontra a mulher tem sido relacionada à desigualdade entre gêneros. Diversos aspectos, comodiferenças nos papéis sociais, assimetrias econômicas e acesso desigual a posições deprestígio nos negócios e carreiras profissionais favoreceriam a opressão de mulheres porreservar aos homens – como classe social – maior poder. Com menores possibilidades dealterar contingências que afetem suas próprias vidas, mulheres estariam mais vulneráveis aataques contra a sua integridade física, emocional e sexual. Uma explicação tradicional para aalta prevalência de violência sexual seria, portanto, entender o fenômeno como efeito,consequência ou produto agregado das contingências sociais denominadas de ‘dominaçãomasculina’. Entretanto, não são raros os exemplos de mulheres que desfrutam de privilégioseconômicos, sociais e étnicos que são ou foram vítimas de violência sexual. Tais eventossugerem um aprofundamento e ampliação do entendimento sobre as práticas culturais dadominação masculina, como o estabelecimento de diferentes repertórios comportamentais –masculinos e femininos. Ainda assim, a violência sexual, como outras formas de violênciacontra mulheres, poderia ser entendida como o resultado final de culturas machistas. Há,todavia, outra hipótese explicativa para a constante e pervasiva ocorrência de atossexualmente violentos: as agressões sexuais não seriam efeito da dominação masculina, massim, parte crucial de como essa dominação opera. Os ataques diários contra as mulheresparecem estar relacionados a construção da sexualidade feminina como veículo de satisfaçãomasculina. Ensinar meninas e mulheres a evitar crimes sexuais é uma prática cultural queproduz comportamentos “recatados”, por exemplo. Mitos sobre estupros estereotípicosmantêm mulheres afastadas de certos espaços públicos. Estupros “corretivos” anunciam aintencionalidade de reorientação sexual. Em tempo, importantes considerações sobre asorigens do patriarcado relacionam o controle da sexualidade da mulher com atos para garantira paternidade, e em consequência a transferência de bens privados. Considerar a violênciasexual como efeito da dominação masculina implicaria em intervir em outras práticas dasquais as agressões são produto. Adotando a perspectiva alternativa aqui apresentada, atuardiretamente nas práticas sexualmente violentas seria um caminho possível para umcontracontrole efetivo.
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