Portal de Eventos - UEM, II Seminário de Pesquisa em Análise do Comportamento: Práxis em Análise do Comportamento

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O papel social da psicoterapia: Existe alguma função para a terapia na luta contra o status quo?
Bernardo Dutra Rodrigues

Última alteração: 2019-06-02

Resumo


A psicoterapia se coloca como um dispositivo que irá trabalhar com aqueles que entram emconflito de alguma forma com o status quo, e.g., a criança que não tira as notas esperadas naescola; o indivíduo que não está conseguindo ir ao trabalho por conta de sintomas ansiosos; apessoa que está apresentando sintomas delirantes; ou a criança abrigada que sofreu violência.Inevitavelmente, o paciente que busca psicoterapia está em conflito com a norma de algumaforma; e uma parte da função do terapeuta é ajudá-lo a desenvolver um repertório para lidarcom esses problemas. Sabe-se que a cultura guarda um lugar seguro para os dispositivossociais que servem à manutenção do status quo. Em um primeiro momento, a psicoterapia semostra como uma ferramenta paliativa, que apenas leva o indivíduo de volta para o ambienteque lhe adoeceu. Entretanto, isso denota uma confusão entre o papel da psicoterapia – e deoutros dispositivos de saúde mental – na promoção da saúde coletiva e na luta por justiçasocial. A psicoterapia pode ser entendida como uma prática voltada para criação derepertórios de contracontrole, e de identificação das contingências sociais ligadas às estruturassociais desiguais de poder. Nesse contexto essa prática não promove diretamente umamudança no status quo. Todavia, ela pode criar repertórios de escolha, resolução deproblemas e de autocontrole, que serão importantes para que, em um outro momento, outrosdispositivos sociais possam permitir o engajamento dos indivíduos em práticas queinfluenciem diretamente nas relações de poder do ambiente (e.g., a militância; a construção deredes ou grupos de apoio; o reconhecimento e a aceitação da sua própria identidade social). Apsicoterapia deve ser entendida como uma profissão inserida em uma rede de colaboraçãoativa entre diversas outras profissões. Essa rede deve ser hierarquizada e estruturada de talforma que se possa exigir um produto de acordo com que cada prática possa dar. Em suaperspectiva mais simples, essa hierarquia diz respeito às práticas que lidarão com osproblemas gerados diretamente pelas estruturas desiguais de poder no ambiente, e aquelaspráticas que enfrentarão diretamente essas estruturas visando a sua modificação. Ser umaprática que lida com o adoecimento provocado pelas relações desiguais de poder, é serconstantemente confrontada com a possibilidade de ser uma ferramenta a favor do status quo,e de trabalhar apenas em prol de cuidar de um indivíduo, para que ele possa retornar para seusafazeres mais tarde. Cabe ao psicoterapeuta reconhecer, no estabelecimento dos objetivosterapêuticos juntos ao paciente, os repertórios comportamentais que poderão não só aliviar ossintomas, mas também gerar a sua autonomia.

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